terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O que foi para mim o 100 Travões

Gostaria de partilhar convosco um pouco da minha experiência 100 Travões.

A primeira coisa que me veio à ideia, da primeira vez que ouvi falar disto (já no ano passado) foi pensar na própria designação da actividade…… pareceu-me um nome descontraído, diferente! Este ano, já inserido neste espírito dei por mim em cima do velocípede a reflectir sobre tanta coisa e a primeira delas foi pensar no porquê de esta actividade se chamar assim. Pegando na definição linguística, não me pareceu fazer grande sentido o nome, uma vez que não vi por lá nenhuma bicicleta com falta de travões…assim teria de ser Sem Travões, a não ser que se tratasse de uma actividade destravada com participantes completamente destravados (se calhar também os por lá havia). Por outro lado a definição aritmética levou-me a fazer contas…como reparei que eram cerca de 35 bicicletas e cada uma normalmente tem 2 travões, perfaz um total de 70 travões e então o nome não fazia mesmo sentido algum…Depois de viver as primeiras horas entre aquele grupo percebi o que é o verdadeiro espírito 100 Travões e percebi principalmente que juntando estas duas definições ou pura e simplesmente não as juntando, o nome faz todo o sentido.

Confesso que a minha participação foi decidida pouco tempo antes e que foi a forma de escapar aquilo que tradicionalmente tem sido o fim-de-semana do carnaval.

A primeira impressão ao chegar na sexta-feira à noite às traseiras do seminário e olhar para dentro daquela garagem foi a tradicional “…isto vai ser bonito vai…” mas depois de tudo arrumado e organizado, aquela oração com todos antes da partida aqueceu tudo (menos a noite) e de repente tudo começou. O receio de que as pernas quisessem fraquejar não se verificou até à Sertã, mas verifica-se muitas vezes na vida de um Cristão! Estamos condenados a sentir o frio da noite sempre que nos afastamos d’Ele mas somos sempre banhados e abençoados com o sol da manhã quando queremos estar com Ele. O foi assim mesmo… a aproximação fez-se e no dia seguinte lá estava o sol, talvez o sinal de que muita coisa boa estaria para acontecer. A primeira delas foi a visita feita em Cernache recheada de muita história, bons saberes e muito bons sabores. Na descida, por vontade da gravidade e das curvas, a bicicleta deslizou veloz por entre a bonita paisagem onde já passei dezenas de vezes e que nunca apreciei como naquele dia. As dificuldades chegaram com as primeiras subidas…pensamos sempre que não vamos conseguir quando atravessamos alguma adversidade e eu pensei novamente que as pernas dariam sinais de fraqueza. Depois de um dia longo o merecido descanso com um indescritível e refrescante banho de água fria.

O domingo foi para mim um dia pleno, o dia em que por ser o dia d’Ele celebrámos num cenário bonito e mais uma vez almoçámos em grande, alimentando o corpo e o espírito. Neste dia destaco a mensagem que todos pudemos ouvir e que nos dizia que as plantas procuram sempre os sítios mais húmidos e próximos da água que é o seu verdadeiro alimento. Dá que pensar aquilo que se passa connosco quando nos afastamos do Verdadeiro Alimento que temos para a vida. Quando estamos longe desse alimento, vivemos mas se experimentarmos estar com Ele “Revivemos”, no sentido em que vivemos de uma forma nova, plena de tudo aquilo que é essencial. Coincidência ou não, o nosso percurso de sábado e domingo levou-nos a fazer isso mesmo, afastámo-nos e aproximámo-nos por duas vezes do rio Zêzere, rio esse que pode significar o rio da vida de cada um que por mais voltas que dê, quer corra de norte para sul ou de sul para norte, desagua sempre no mar que é Deus.

O último dia foi para mim a realidade. Por muito bem ou mal que possamos estar com a vida ou com o que nos rodeia, haverá sempre as subidas e as descidas, o sol e a chuva, os ventos que sopram favoráveis e os que sopram contrários. Este último dia foi como que o teste final, o confirmar de todos os outros dias. O vento soprou sempre contrário entre o Sardoal e a chegada ao fim e nem por isso nos demoveu de pedalar, pedalar, e até às vezes a descer…pedalar. Até mesmo o facto de a última parte do percurso ter sido feita de forma diferente fez para mim sentido depois de tudo o que se havia passado antes. Às vezes temos que dar o braço a torcer, ceder um pouco perante a dificuldade para que depois a possamos contornar e vencer. Tal como um náufrago que luta tentando nadar contra a corrente…por vezes o melhor a fazer é deixar-se levar pela mesma corrente para que numa zona ou situação mais favorável a possa levar de vencida e assim alcançar terra firme.

No fim de tudo ficou um conjunto de sensações que fazem bem ao corpo e alimentam o espírito. Ficaram alguns amigos que já o eram e muitos que tenho a certeza o passaram a ser. Ficou a música que nos incitava a andar enquanto houver estrada. Por pouco essa musica que diz “Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar!” podia ser acrescentada de uma palavra que faz todo o sentido e passaria a “Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar a pedalar!” tal como as novelas que têm sempre títulos que fazem parte da banda sonora :)

Na memória guardo

escuridão sol paisagem descida subida ALIMENTO dificuldade cansaço reflexão vento conforto 7 pontos e um olho negro luz banho de água fria faz bem aos músculos esparguete com salsicha adrenalina frio dor amigos novos sorrisos ao acordar sangue calor chuva ligaduras ida regresso repouso travar pedalar RECOMPENSA


Não se esqueçam:

Enquanto houver estrada para andar ... a gente vai pedalar!!!

Pedalem sempre, nem que seja por fora da estrada!

Uma subida só o é, se estivermos a abordá-la pelo lado errado.

Até breve

Deste novo amigo

Pedro Farinha

(notícia sobre a passagem do 100 Travões pelo Pergulho)

2 comentários:

  1. Pedro, fico feliz porque gostaste do encontro. acredita que foi muito produtivo conhecer-te. uma pessoa sempre disposta a ajudar e sempre com a boa disposição, é assim que te defino.
    Vindo de mim, fica já aqui o convite para a participação em encontros futuros..

    Abraço

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  2. tás lá Pedro!
    tás lá e tás cá dentro do coração.

    Bom Amigo, gostei mais uma vez de estar contigo nesta caminhada.

    um pedido: posso publicar este artigo no Sangue da Aliança?
    Abraço
    Virgílio

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